Você é capaz de responder esta pergunta? E mais, você é capaz de reconhecer o que a escravidão usurpou de nossos ancestrais?
Felizmente hoje, já podemos ler, assistir e ouvir relatos de pesquisadores sobre os dados estatísticos que circundavam a população negra vítima da escravidão, bem como, os dados estatísticos que revelam a situação sócio-econômica, como podemos falar de forma mais atualizada, da população afrodescendente, da qual você pode julgar não fazer parte.
Saiba meu querido(a) ingênuo(a), você como sujeito real e concreto faz parte dessas estatísticas, excluído de uma educação pública de qualidade, usuário do sistema de saúde ineficaz e ineficiente, por isso busca a educação e a saúde privada, pois bem, você é tão vítima da violência como eu, ou qualquer outro irmão de cor azul, preta, verde, cinza, amarelo, vermelho.
Diante da suprema cegueira que nos adoece, ouso convidá-lo(a) a enxergar quem são as reais vítimas dessa exclusão. Responda-me, quem diariamente é violentado em seus direitos e dignidade, e ainda acredita que não participa de contextos de escravidão. E como se não bastasse a cegueira, quando temos oportunidade, usamos as lentes maniqueístas da superioridade, somos capazes de olhar o outro que é inigualável, único, diverso, e inferiorizá-lo ou supervalorizá-lo alimentando o processo de inversão de valores, quando somos capazes de chamar de “senhor” nossos algozes, aqueles que sem cerimônia ou pudor articulam meios para desviar recursos públicos, espancar mulheres e crianças sentindo-se donos(as) dos mesmos, decidem quem pode ou não viver, e por ouro lado, de forma perversa somos insensíveis e indiferentes aos que honestamente trabalham e constroem essa nação. Há uma identidade em jogo.
Lembro que na minha infância e adolescência estudei que 13 de maio era uma data para enaltecimento da família real portuguesa destacando a benevolência de uma princesa (branca, só podia ser) em favor de pessoas negras que sempre esperaram pela redenção, e lembro que até havia uma imagem da ”bela” senhora nos livros didáticos para assegurar de não esquecermos sua benfeitoria.
Infelizes fomos todos nós ao sermos vítimas de uma educação racista, discriminatória e antidemocrática que insistia em nos condicionar a veneração de uma realeza, uma elite que usurpou durante décadas a credibilidade da resistência e mobilização social. Afinal, no século XIX era cada vez mais crescente o repúdio e lutas contra a escravidão e a revolução era eminente.
Hoje, seguramente posso afirmar que 13 de Maio é uma data para se comemorar a força popular, e a força da mobilização social capaz de modificar uma estrutura social e econômica. Contudo a Lei Imperial nº 3.353 sancionada em 13 de maio de 1888 que extinguia a escravidão no Brasil não extinguiu as relações senhoriais que se consolidavam por meio de práticas autoritárias e relações de dependência da população fragilizada pela negação de condições dignas de sobrevivência.
Não podemos esquecer que deu certo a estratégia de sancionar uma lei para frear as transformações que a revolução implantava na sociedade brasileira, e estruturar formas alternativas de perpetuação do racismo, uma lei que reconhecia o direito, mas não assegurava as condições de sobrevivência a toda população brasileira azul, verde, amarela, branca e preta.
13 de Maio é a data da abolição da escravatura, mas não deve ser da extinção do conhecimento e luta por ações afirmativas que positivam a participação do negro na formação da sociedade brasileira.
Blog da Marcia Susana
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