Por: Rainer Gonçalves Sousa
Imagine um compositor sentado à mesa. Cercado por seus instrumentos musicais, papéis e partituras ele gasta horas a fio tentando criar algo novo. Boa parte de seu trabalho já está pronto. Os instrumentos utilizados, o conjunto de notas usuais e, até mesmo, as roupas para a apresentação estão todos definidos. No entanto, falta um último detalhe que o perturba: “Que nome colocar nesse novo gênero musical que acabei de inventar?”
Essa situação seria, no mínimo, estranha. Até hoje, não se tem notícia de algum compositor ou artista que planejou os mínimos detalhes da criação de um novo tipo de música, chegando até a antecipar seu próprio nome. Usualmente, os gêneros musicais surgem com o passar dos anos, com a experimentação de diferentes músicos e contextos históricos bastante específicos. Um exemplo bem claro desse gradual processo de criação pode ser visto com a criação do samba.
Ao contrário do que se pensa, durante muito tempo, o termo “samba” não fazia referência a um estilo musical específico. Nesse período – entre os fins do século XIX e o início do século XX – as pessoas não costumavam “escutar samba”, elas “iam ao samba”. Para entendermos um pouco melhor devemos compreender um pouco da história dos escravos e da cidade do Rio de Janeiro no século XIX.
Nesse período, percebemos a ocorrência de dois importantes fatos históricos: a Abolição da Escravatura, em 1888, e, no ano seguinte, a Proclamação da República. Com a abolição dos escravos, um grande contingente da população negra do Brasil abandonou o campo e passou a buscar meios de sobrevivência nos centros urbanos do país. Muitos desses ex-escravos começaram a sair das fazendas da região norte-nordeste em direção à cidade do Rio de Janeiro.
Os negros que fizeram esse trajeto chegaram em uma cidade despreparada para receber esse novo contingente populacional. Dessa forma, os negros passaram a ocupar bairros mais afastados ou se instalaram nos cortiços espalhados pela cidade. Ao mesmo tempo, as dificuldades para se arranjar emprego e o problema da discriminação social foram dois fatores que promoveram a solidarizarão entre essas comunidades socialmente e economicamente excluídas.
Uma das formas mais comuns pelas quais os negros reafirmavam seus laços de amizade e cooperação ocorria durante as festas nas casas das “tias” ou das “vovós”. As casas das “tias” e das “vovós” eram grandes pontos de encontro daquelas comunidades. Durante essas festas, ocorria a celebração de rituais religiosos, o oferecimento de variados pratos de comida e a execução de diferentes manifestações musicais. Usualmente, aqueles que freqüentavam essas festam diziam que freqüentavam o “samba” na casa da vovó (ou da titia).
Dessa maneira, antes de surgir a música “samba” o termo era sinônimo de festa. Outros pesquisadores do assunto ainda relatam que o termo “samba” tem origem no termo africano “semba”, que era comumente utilizado para designar um tipo de dança onde os dançarinos aproximam seus ventres fazendo uma “umbigada”. Segundo o dicionário Aurélio o termo originário ainda significa “estar animado” ou “pular de alegria”.
Em 1916, Donga, foi considerado o primeiro músico a registrar a letra e a canção de um samba. Mesmo assim, até meados da década de 30 os componentes estéticos e musicais do samba sofreram grandes transformações. Ainda no início daquela década, o irreverente sambista Noel Rosa perguntou a um jovem compositor que lhe entregara uma letra: "Isso é samba ou aquela outra coisa que a Carmen Miranda canta?”. Com isso, podemos perceber que o samba teve diferentes significados e, enquanto música sofreu muitas transformações até chegar à forma contemporânea.
Fonte: http://mundoeducacao.com.br/
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